Monday, January 02, 2006

São Cartas

No outro dia encontrei no chão do meu quarto uma carta! Pensei que seria muito estranho haver por ali pelo chão uma carta! O meu quarto estava desarrumado como sempre mas as cartas que recebo tenho.as sempre muito bem guardadas ao pé do meu diário! Sem querer muito bem lê.la e já á espera do que seria, apanhei.a do chão e comecei a ler..."Meu amor..." Parei de ler e decidi queimá.la...
Ao chegar cada vez mais perto a chama do isqueiro que me serve para acender os pauzinhos de incenso, apercebime de que nao queria mesmo queimá.la.

Aquela carta que sem saber como, tinha aparecido no meio daquele chão vazio, era uma carta do meu passado.Pertencia ao passado onde ainda tudo estava vivo e eu estava completa. Eu então ainda não me vestia de preto, nao usava sapatos de salto pretos, nao apanhava o cabelo em remoinho e nao o pintava de preto,...todas as noites. Os meus lábios encarnados lembram (agora que penso nisso) o embrulho dos bombons que me trazias, o mesmo encarnado que ficava espalhado na cama coberta de petalas de rosa, o mesmo encarnado que existia na ultima vez que te vi. Vinho. Em tanto o sangue se parece ao vinho! Na côr, no cheiro que fica e nao sai,..eu bebi de ti, dos teus lábios encarnados, que já nao voltam. Não há mais bombons encarnados.

Ainda com a carta na mão, passaram.se umas horas, nao me atrevia a lê.la..eu tinha.a escrito para ti, foi a carta que nunca leste, a carta na qual eu te abandonaria para seguir um novo caminho longe de Lisboa, a cidade consumiame e tu consumiasme com ela todos os dias, todas as noites, usavasme e eu deixava. Mas sabia que o fim estava perto, por isso escrevi a carta mesmo antes de pensar para onde ir, por onde recomeçar.

Efectivamente o fim estava perto. Mas nao o planeado. Foste tu quem me abandonou, para sempre e eu nunca suportei a indiferença. Sei que se fosse eu a que tivesse partido tudo estaria bem. Mas quem me abandonou foste TU! e com isso eu nao vivo, nao sei viver...por isso te escrevo esta carta. Carta sobre carta. Juntas.

Sem querer acreditar, deixome levar pela esperança de que em breve estaremos lado a lado, recomeçando, juntos.


11 comments:

Anonymous said...

tracinho


______

Filipe

Liliana Bárcia said...

eu falo por experiência própria.. as cartas dizem mais do que muitas palavras, mesmo aquelas q nunca chegamos a enviar. Eu tinha uma dessas, uma muito grande que quase estive para a enviar, mas um travão qq disse-me que não. Acabei por deitá-la fora, achei mesmo q ñ valia a pena vasculhar em assuntos q já deviam ter passado. Deitei-a fora, mas ñ a queimei, ainda me dei ao trabalho de olhar no dia seguinte para o caixote do lixo onde tinha a carta (não amachuquei as folhas) pensando se a enviaria.. mas não.. se a tinha colocado no lixo achei melhor q ñ o fizesse.

E se calhar foi melhor assim.

Beijinhos***

Anonymous said...

Bom que dizer...
Acho que assuntos não resolvidos, ou melhor, cartas não enviadas, todos temos...
Sempre que elas nos surgem uma nova vez, mesmo depois de as termos escondido debaixo de algum tapete, devemos olhá-las e fazer o que deve ser feito...
Nada é mais forte que o destino..

Anonymous said...

há cartas com 'força'... (;
**

styska said...

há tantas cartas assim... umas ficam caídas pelo chão, outras esquecidas numa qualquer gaveta..
gostei mto do texto! :)
beijinho*

Anonymous said...

Sim! Todos nós temos dessas cartas, ou palavras que não o chegam a ser e que dariam um texto sem fim, mas que nos ficam cá dentro na expectativa que alguem um dia as queira ouvir ou ler, são as tais "palavras (coisas) que ficam por dizer" mas que existem, são especiais e não se esquecem. São essas "cartas" que fazem a nossa vida, as cartas que ninguem leu.

Bjnhs

Anonymous said...

Agora achei ali uma coisa engraçada, aqui fica mais uma perspectiva que não é muito diferente das nossas, é um texto que o tiago escreveu em relação á famosa "carta"... Aqui fica

Acho que todos já escrevemos cartas destas, para pedir qualquer tipo de desculpa ou para mostrar teimosamente o nosso lado da razão no fim de uma qualquer história. Acho que todos já tentámos dizer tudo sem dar assim tanto. Às vezes as palavras brincam connosco e deixamo-nos ir numa escrita mais escondida, mais segura, quase sempre obvia para quem tem a chave. Quando se mostra alguma coisa nossa, dão-se outras chaves, dão-se outras fechaduras, guardamos a nossa no bolso e vemos o que acontece.
Desta vez a música foi consequência de uma texto, dois acordes para um não acabar de frases entrelaçadas disfarçadas em metáforas que nem sempre dizem pouco. Um não acabar de fechaduras...
Acho que todos já escrevemos cartas destas, ou se calhar não escrevemos... mas pensámos.

Algumas coisas não estão directamente relacionadas, mas outras acho que estão bem aplicadas neste contexto.

Lá está podemos não escrever, mas pensamos. :)

Never Mind said...

'Tis better to have loved and lost / Than never to have loved at all."-"In Memoriam"
Quem nunca amou, nunca puderá ter uma carta como essa. Amores que se juram para sempre, promessas que o vento leva, esperanças que o coração perde, paixão que o tempo mata.
É dito que é inevitável, que o tempo corrompe, tal é uma metáfora com dois gumes. Como é que algo tão belo, tão puro, tão simples, é capaz de desaparecer?
É simples: não desaparece, enquanto hover esperança, não irá definhar.
Sim, tive uma carta assim, escrevia, lia e voltava a ler, com fé que umas palavras devolvessem aquilo que já não havia á muito. Mas quanto mais lia, mais entendia que já não significava nada, que não era verdade, que por mais palavras que ali metesse, nada daquilo iria mudar o que já estava feito.
Era tempo de esquecer, e assim foi. Palavras transformaram-se em cinzas, numa chama unica e bonita, e palavras levou-as o vento para sempre...

polly_maggoo said...

a mim sempre me custou imenso escrever sobre quem mais gosto, parece sempre bem mais fácil escrever à toa sobre mim ou sobre o mundo do q propriamente de quem mais me diz. as cartas sempre foram algo bem pessoal e muito mais bonito q os mails ou msgs de tlm mas infelizmente já não há mta gente q as continue a escrever. eu sou dessas pessoas q continuam a escrever à moda antiga, lol
as palavras tomam forma quando as passamos a escrito:) tornam-se reais.
beijos amiga linda do meu corazon q te quiero siempre muchisimo:)
maggoo

Celi M. said...

Lindo. A forma como descreves as duas cores opostas representando o antes e o depois. O misticismo de uma carta antiga é sempre algo que sabe a nostalgia e enche tudo do sentimento estranho. Gostei mt!

W said...

Fizeste-me recordar umas cartas, ou pelo menos, uma em particular que recebi. Há, de facto, coisas que nos marcam. Sendo cartas recebidas, enviadas, ou mesmo nem enviadas. As cartas são mt 'perigosas', pq são um documento, um objecto e as sms e assim são mais efémeros. Se calhar às x pensamos : ah escrevi aquilo!que mal.. se fosse agr, era dif. Mas td é dif. E as coisas fazem sentido no tempo em que nascem e foram escritas. E é estranho, porque relemos algumas coisas e elas ainda nos tocam mt fundo.é arrepiante.. é pq ainda não passamos por cima delas.
beijo take care*